05 fevereiro, 2016

As goteiras da minha casa

Minha vida é um telhado com goteiras. Nem adianta tentar fechar as brechas. Às vezes, funciona trocar as telhas, mas elas só resistem por um tempo. Depois de algumas ventanias, elas saem do lugar e os espaços reaparecem.

Não acho que isso seja ruim, na maioria das vezes. Por esses pequenos lugares que, a princípio, não deveriam existir, entram flechas de luz que me acordam pela manhã e para a vida. Em alguns momentos os pequenos raios de sol tomam conta do meu rosto; outras vezes, eles chegam de mansinho, afagam como quem faz carinho. O resultado é o mesmo, o que muda é o processo.

Quando não é sol, é chuva. Frias gotas d'água me fazem companhia, saltam no meu rosto como quem brinca. 

Seja sol ou chuva, meu telhado, cheio de remendos, revela as falhas que carrego comigo.

As goteiras da minha casa são minhas, não as renego. Elas são parte de mim. Me organizo e desorganizo. Vivo num eterno ciclo de reconstrução. Até quando minhas falhas se tornam mais evidentes, é possível encontrar algum proveito.

Para quem não pode dormir com janela aberta, aquela pequena brecha entre as telhas é o que me permite ver o céu numa noite clara.