30 dezembro, 2014

O último do ano

Para a felicidade de uns e tristeza de outros, o vinho está acabando. A garrafa não está mais meio vazia ou meio cheia. Ela está praticamente seca. Seca de líquidos; cheia de memórias.

Todos os dias foi oferecido um gole de vinho. Alguns beberam demais. A ressaca, já que era vinho, foi muito forte. Uma ressaca de alegria e sorrisos francos; de abraços apertados e olhares calorosos. Uma ressaca cheia de histórias para contar.

Alguns goles eram tão fortes que fizeram muitos desabar. A ressaca, nesse caso, era de olhos tristes, coração partido e saudade.

Perdeu mesmo quem não bebeu do gole de vinho oferecido, fosse numa taça ensolarada ou coberta de névoa. Esses sim tiveram muita dor de cabeça.

Ganhou quem bebeu o vinho deitado na cama e enrolado naquela tarde fria; quem ofereceu um pouco dele para quem ainda não bebia ou o desprezava. Quem aproveitou as oportunidades que o vinho trazia em cada amanhecer, anoitecer, amadrugarecer...

As pessoas que, com medo, beberam desse líquido precioso estão, nesse momento, pensando se tiveram ressaca ou se deixaram os outros goles passarem despercebidos.

Amanhã, a garrafa vai secar, mas outra estará cheia, já sem a rolha, esperando que nós tenhamos coragem e tomemos o primeiro gole com a vontade de sentir todos os aromas e sabores que esse vinho pode nos dar. 

Seja ele seco, branco, suave o que importa é que cada gole se adapte e agrade ao nosso paladar.