30 junho, 2013

Retrato falado

Nunca me desenharam. Nunca fui traçada em linhas retas, nem em curvas planejadas.
Nunca fizeram de mim um esboço. Nunca me pensaram em cores ou em preto e branco.
Borracha, lápis, compasso nunca me foram apresentados, graficamente falando.

Não sirvo pra musa, eu acho.
Não tenho nada de diferente, nada demais. Sou normal. Nem bonita nem feia. Muito menos, exótica.
Não sou magra, não tenho curvas exuberantes. Um corpo como outro qualquer que não chamaria a atenção num desenho.
Meu cabelo não possui um estilo diferente. Nem meus olhos, nem meu sorriso.

Não sirvo de inspiração para pessoas de nível inicial, médio ou avançado.
Disseram que minha imagem ficaria destorcida, por isso nem tentaram.

Espero que, um dia, alguém tenha coragem, aceite o desafio, ou apenas seja bondoso e me desenhe, mesmo que o resultado não seja positivo. Mesmo que me rasguem e chamem de lixo.

Um perfil, uma linha, um rabisco. Um retrato falado! Só quero ser desenhada.

28 junho, 2013

Segue com ela

Vai, segue com ela que o caminho pode ser mais curto e mais divertido. Ela pode te ajudar nas coisas que eu não sabia. Ela pode te ensinar a curar a alma que eu feri.

Segue com ela que a estrada é sem espinhos e sem dor, as flores mais perfumadas e o sol brilha mais forte; segue com ela porque ela pode te apontar a direção certa na encruzilhada da vida.

Ela vai contigo no teu rumo. Então, segue teus passos, organiza tua mala e vai outra vez seguir com ela. E pode deixar que eu me viro; não se preocupe que eu me cuido. Uma dor a mais não pode custar uma vida sem esperança. Vai, segue com ela que eu sigo sonhando, eu sigo tramando meu destino só. Eu sigo arriscando e perdendo, mas não machuco ninguém.

Vai, pode ir, ela está te esperando.

Volta lá e segue com ela.

16 junho, 2013

Licença

Quando ele se foi, eu coloquei, com jeitinho, a chave de casa na sua mala. No outro dia, ele me disse que a encontrou e que devolvia assim que desse.
O tempo passou. 
Fui arrumando a casa, aos poucos. Tirei a poeira do quarto, troquei os livros de lugar. Mudei o sofá e as cadeiras.
Organizei minha vida pra aprender a viver sem a dele.
Apesar disso, nunca troquei a fechadura da porta, na esperança de que ele voltasse. Pra dizer oi, quem sabe; pra devolver a chave, mesmo que isso me doesse; pra me dizer desaforos; enfim, eu esperava uma visita.

E o tempo passou, obedecendo a regra óbvia da finitude dos tempos.
E um dos acasos que o destino traça em nossas vidas fez com que, um dia, ele voltasse. Repentinamente. Descuidado. Despreocupado. 
Bateu na porta e pediu licença pra entrar. Mas, pedir licença por quê?

"Você sabe que não precisa pedir licença pra entrar; você tem a chave. É só chegar na porta e abrir. E você também sabe que ainda manda aqui. 
Aqui em casa. Aqui, dentro de mim."


De início, cauteloso, me mostrou a chave e a colocou sobre a mesa. Depois, seguro de nós, ocupou o lugar que sempre lhe pertenceu. 

Antes de ir, ele pegou a chave e guardou no bolso. Saiu olhando pra trás e disse até breve.

...

Nada voltou a ser como antes. Nada. Situações embaraçosas continuam acontecendo. Mas ele sabe que tem um endereço certo e seguro. 
Hoje, ele mesmo trocou a fechadura da porta. Deixou uma chave comigo. A outra ele levou porque, caso eu perca a minha, eu sei onde estará a reserva. E...
Com licença. Ele chegou.

13 junho, 2013

Fraca e incapaz

Eu não preciso te procurar nas coisas. Você está mais presente na minha vida que eu mesma.

Não consigo esconder minha felicidade depois de te ver numa canção; de ouvir tua voz numa frase de comercial; de sentir teu cheiro na minha roupa lavada.

É impossível não chegar o inverno e eu não lembrar de você. Por quê? Porque vocês dois não combinam. Porque eu lembro você reclamando do frio insuportável. Mas eu adorava o inverno ao teu lado porque eu era teu cobertor, tua lareira. Te livrei da hipotermia várias vezes.

E que digam todos que ainda não te esqueci. Não negarei. Me chamem de fraca; admito ser.
Não esqueço do dono da voz que me embalava; do responsável por me entorpecer com seu cheiro e daquele que me fazia ver o infinito através dos seus pequenos olhos.

Gosto de ser fraca e incapaz.
Não sou capaz de tirar da minha mente a pessoa que me fez sonhar com um mundo em que apenas eu era a responsável por fazer feliz quem eu mais amava.

06 junho, 2013

Volta amanhã

Volta amanhã que hoje eu tô cansada. Não do meu trabalho, da minha vida, daquilo que me faz ser útil.
Estou cansada das tuas idas e vindas, da tua indecisão, do teu querer não me querendo; e quando não me quer já me tem.
Estou exausta desse jogo. Cansei de ter a felicidade medida por conta gotas. Quero algo completo, agora.
Se quiser ser feliz comigo, venha, mas não vá. Se doe, se dê por completo.
Caso não queira, tudo bem. É melhor uma triste decisão ser tomada que ter a dúvida a rondar o pensamento. Ficarei bem, tenho certeza. 
Mas, hoje não. Vai arrumar tua casa que depois eu organizo a minha.
Me deixa descansar que hoje quero meu tempo de volta: vou pintar a unha, ajeitar o cabelo e ser linda para mim. 
Volta amanhã, amor, que hoje eu aprendi a me amar.

03 junho, 2013

Donde?

De onde vem esse dom de me fazer bem?
De me arrancar um sorriso em meio a tanta dor?
De me fazer ter esperança quando tudo é escuro?

De me fazer relaxar diante de um estresse, de me fazer parar quando devo correr, de me fazer correr pros seus braços quando eu deveria estar só?

De onde vem essa magia que você tem de me fazer chorar de rir, rir de tudo e de tudo ser perfeito ao seu lado?

Não me importo de onde isso vem.

É preferível não ter essas respostas e te ter por perto.